Copo de 3: O ataque dos Clones...

03 agosto 2005

O ataque dos Clones...

Quando provamos um vinho, ou lemos um contra-rótulo apenas vem indicado que tem esta ou aquela casta.
Mas isto hoje em dia já não é bem assim, pois além da casta ser por exemplo Fernão Pires, esta mesma casta tem vários clones, que estão catalogados e cada um com determinadas caracteristicas... parece confuso mas o mundo da clonagem é mesmo assim.

Ora bem, é sempre bom ter um levantamento de uma casta, dentro da Touriga saber qual é esta ou aquela variedade, de modo a que se aumente a qualidade de um vinho, e óbviamente um melhor apuramento da casta.
Se tivermos um pequeno terreno, onde não sabemos as castas, convém fazer um estudo e apurar o que por lá temos... mas se soubermos que uma parcela é apenas de Trincadeira, então dentro da mesma parcela a variedade genética pode ser enorme e encontrar algumas variedades diferentes dentro da mesma casta.

Por isso qualquer dia temos um rótulo a dizer Touriga Nacional Clone X...com Aragones Clone Y.
Ou quem sabe um Mono Varietal pluri Clone, com Touriga Nacional clone x , clone y e clone z, tudo de parcelas diferentes, mas a mesma casta.

Mas como se faz a escolha dos Clones ???

- Numa primeira fase do respectivo melhoramento genético é feita uma prospecção de pés mães.
- A segunda fase a partir da enxertia, onde são feitas múltiplas observações e avaliações que culminam com a eleição dos melhores clones segundo o rendimento.
- Surge a terceira fase ,onde estes clones são enxertados em campos de experimentação clonal e as avaliações incidem sobre o rendimento, o açúcar e a acidez total, e a riqueza antociânica.
Nesta fase, que se inicia 5 a 6 anos após o começo dos trabalhos, os campos de experimentação clonal são simultaneamente campos de multiplicação, que permitem, desde logo, o fornecimento à viticultura de garfos para enxertia.
-Numa quarta fase vamos seleccionar um novo grupo de clones, integrando os melhores em cada um dos quatro parâmetros referidos e os melhores no conjunto. Este grupo, já com uma grande pressão de selecção e bastante restrito, tem sido alvo de aprofundados estudos, incluindo microvinificações e indexagens para despiste de vírus considerados nocivos para a vinha.
-Na fase final resta a homologação pelos Serviços do Ministério da Agricultura .
passado este tempo, a Viticultura Nacional passará a dispor de material de propagação vegetativa com outro gabarito genético e sanitário, o qual contribuirá para o alargamento da importância das castas e para a subida qualitativa dos seus vinhos.

Temos o exemplo da Fernão Pires, que após estudos, se foram homologar sete clones FP 0315, FP 0912, FP 2211, FP 2622, FP 8001, FP 8002, FP 8204.
A amplitude e profundidade dos trabalhos experimentais realizados permitiram conhecer e caracterizar estes clones de molde a classificá-los como se segue:
Os mais equilibrados em todas as características (culturais e enológicas) FP 2234, FP 3029, FP 8003, FP 8204
Os de melhor rendimento FP 2211, FP 8001, FP 8105
Os de melhor álcool provável FP 0315, FP 0912, FP 2622
O de melhor acidez FP 8002

Os dados apresentados foram retirados duma comunicação apresentada no V Simpósio de Vitivinicultura do Alentejo, Intitulada " Obtenção de clones das castas Castelão, Trincadeira, Fernão Pires e Arinto da autoria da Engª Kátia Teixeira e outros distintos Agrónomos da referida Rede Nacional de Selecção da Videira.

Mais alguns exemplos retirados do site
http://www.plansel.com/ na primeira foto temos um esquema de selecção clonal:



Neste segundo quadro, exemplo da definição de grupos de "performance" no caso do Aragonez:

A = Alto potencial de performance
B = Alto potencial de transformação alcoólica
C = Performance produtiva
D = Tendência para uma reduzida performance

Como se pode osbervar, este levantamento genético das nossas castas, e melhoramento das mesmas, só vai ajudar a que se conheça melhor aquilo que é nosso, e que assim a qualidade dos nossos vinhos aumente.

Numa notícia recente, no site
www.elmundovino.com , dizia que a DO Rias Baixas ficou com os 11 melhores clones , que durante 8 anos, os investigadores Galegos estiveram a estudar.
Deste modo os Produtores vão ter ao seu dispor, material homologado, sem vírus, e que podem escolher de acordo com as necessidades.
Certamente que a qualidade do Albarino vai melhorar ainda mais...

2 comentários:

Anónimo disse...

Cada vez mais didático este Blog, sim senhor, consegue sempre focar temas que interessam.

Os meus parabéns pelo profissionalismo que consegue colocar no Copo de 3.

Abraço do Miguel Silva

Anónimo disse...

Fico espantado que é dos poucos sítios onde se consegue encontrar tanta e tão boa informação.

Um leitor atento.

 
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