Copo de 3: julho 2011

18 julho 2011

Marasmo vínico ou nem por isso...


Começo a olhar à volta e afogo-me quase sempre nos mesmos nomes, nos mesmos projectos, nomes e rótulos, falta por cá claramente a centelha da inovação e a vontade do ir mais além, do querer mostrar que é possível apostar em castas diferentes do normal mas que sempre cá moraram... há falta de empenho, falta de estudo, falta de dinheiro e falta de paixão por aquilo que se faz. Quantos senhores do vinho já apostaram a sério numa casta daquelas que nunca disseram ser possível fazer um grande vinho apenas porque dá trabalho ? Quanta juventude perdida nos caminhos do facilitismo da enologia em que a receita acaba por ser quase sempre a mesma... acabando-se por apostar em castas de fora quando raramente se dá uma hipótese ao que é de dentro... acostumado aos calores e frios, aos humores do tempo, castas nossas que correm o risco de desaparecer porque quem faz vinho pensa cada vez mais com a carteira e menos com o coração. Onde estão as conversas de que determinado jovem enólogo resgata uma vinha velha em determinada região e começa a lançar vinhos diferentes e que começam a despertar atenções ? Porque é que nós não temos disto por cá ?
Muito recentemente tive oportunidade de provar vinhos diferentes, vinhos feitos em Espanha e Itália, vinhos resultantes de mentes irrequietas, mentes jovens onde a aposta por demonstrar que daquela casta se pode fazer grande coisa e levaram o seu projecto adiante... os resultados começam a surgir, assiste-se a um despertar de mentalidades, de atenções para algo que surpreende, sem ter de investir muito... produções pequenas mas com garantia de qualidade. Aquilo que se devia pensar quando se faz vinho em Portugal, em vez de pensar no aumentar a produção para o dobro e depois afogarem-se em viagens ao estrangeiro a ver se despacham umas caixas pela Santa exportação... e enquanto isso acontece, os vinhos continuam por cá na mesma.

09 julho 2011

Quinta dos Avidagos Reserva 2007

A Quinta dos Avidagos é infelizmente a meu ver um produtor pouco falado, pouco discutido e raramente com vinhos a surgir na mesa das tertúlias enófilas... certamente os gostos andam cruzados ou virados para outros lados, há tanto vinho, e talvez até vinho a mais, que alguns acabam por escapar aos olhos de quem os procura. Aliás, estes vinhos andam tão cruzados que nas duas principais revistas do sector o gosto oscila entre um 15 e um 17... portanto se levarmos à letra a conversa ficamos sem saber o que pensar, ou sim ou sopas.
Em prova o Quinta dos Avidagos Reserva da colheita 2007, Tinta Roriz, Tinta Barroca e Touriga Franca e Touriga Nacional fazem o lote que foi a banhos durante 1 ano em barricas. O preço ronda os 9€ nas prateleiras do Continente.

Um vinho afinado, de mediana intensidade e centrado na fruta vermelha, com muito morango da Roriz e alguma cereja, ambos pingam frescura com a madeira bem entalada no conjunto, harmonioso, fumado e tosta suave com fundo de alcaçuz. Na boca equilibrado, elegante, mediano de corpo, boa passagem, novamente suave doçura da fruta a marcar presença com alguma secura em fundo.

Não tem o Douro chapado na cara, mas mostra-se um vinho fresco, equilibrado e fora de concentrações desmedidas, em que se nota que se apostou na frescura da fruta e se utiliza a madeira não para marcar ou tornar o vinho pesado, que não é, mas sim para ajudar a tornar o conjunto mais harmonioso. Está numa boa fase de consumo em que o verti por completo a acompanhar uma grelhada mista de novilho. 90 pts

08 julho 2011

Madrigal 2008

Mudou de visual este que é o grande branco da Quinta do Monte d´Oiro, agora mais aprumado e direi com aspecto mais sério este vinho surge aqui em prova com a colheita 2008. É um 100% Viognier, talvez mesmo o primeiro a surgir em Portugal e que já se tornou uma referência do que é feito neste cantinho da Europa. O vinho teve passagem por barricas novas de carvalho francês, saiu com 14% Vol. e um preço que ronda os 15€ ou até um pouco mais.

Encontrei um vinho acessível na prova, de fina e mediana expressão, com um suave baunilhado a dar as boas vindas, leve na frescura a mostrar grande harmonia de conjunto. Flores, boa fruta entre alperces e laranjas a abrir ligeiramente com as voltas no copo, em fundo com mineralidade ainda que tudo um pouco desfocado. Boca com bom ritmo, corpo mediano que entra com alguma frescura com sumo da dita fruta e alguma calda, fundo mineral num branco de comportamento homogéneo desde que entra até ao final da prova.

É o terceiro varietal desta casta feito em Portugal que aqui coloco nos últimos tempos, e sendo o último foi e é aquele que mais me agradou. Há por aqui algo que o torna diferente, delicadeza, frescura, uma boca com corpo mas ao mesmo tempo a refugiar-se na frescura e delicadeza da fruta... para mim falta-lhe mais alma, mais suco, mais frescura e esclarecimento, mas não estamos em Condrieu e sim na Estremadura e há coisas que por muito que se queiram não se conseguem replicar. Tal como a palavra Madrigal nos diz, é uma pequena composição poética, que exprime um pensamento fino, lisonjeiro e terno... 90 pts

04 julho 2011

Casa Casal de Loivos 2007

Este vinho vinificado por Cristiano Van Zeller da Quinta Vale D. Maria, juntamente com a enóloga Sandra Tavares da Silva, provém de uma pequena propriedade de 1,6 hectares de vinha com mais de 50 anos que abasteceu com uvas da mais alta qualidade a empresa Quinta do Noval, agora dá origem a este Casa de Casal de Loivos. É um erro pensar que este vinho é o entrada de gama do vinho Quinta Vale D.Maria, são vinhos bem distintos recaindo a minha opção pelo segundo, mero gosto pessoal a falar.

Aqui o peso da garrafa é proporcional ao peso do vinho, apesar da gulodice, da complexidade e da forma harmoniosa como a madeira se casa com tudo o resto, o vinho recai um pouco em alguns aromas quentes e adocicados, eu gosto dos Douro mais frescos e com fruta mais limpa, sem passa de preferência. Procuro aquela secura no final de boca, aquela garra e nervo, coisas que me acostumei a gostar e a procurar...

Vinho rechonchudo concentrado e pujante, são 15% Vol. que curiosamente não se fazem sentir, com frescura e fruta em enorme sintonia, sente-se algum peso, passada intensa, todo ele complexo com fruta negra do tipo cereja muito madura e alguma passa a dar toque adocicado, frescura suave com madeira integrada, especiaria doce, tabaco e cacau... na boca repetimos a dose, fresco, amplo e a tentar preencher toda a boca, sabe ao que cheira o que é bom, eu gosto disto, sente-se o rasgar da fruta pelo meio da boca rodeada de coisas boas. O final é persistente e longo,  um vinho que não é barato pois chega facilmente aos 25€, dá uma prova muito sólida, muito fácil de se gostar e de se beber... apesar de ser muito bom o vinho não me deixa vontade de repetir, encontrei por ali muita repetição, muito do que se costuma encontrar... e o preço face à qualidade não ajuda minimamente. 90 pts

02 julho 2011

Quinta de S.José 2008

Lembram-se dos Ázeo feito pelo enólogo João Brito e Cunha ? Este é também da sua autoria, portanto é uma certeza que iremos encontrar algo de bom. Duriense de gema, nasce nos 25 hectares de vinha para os lados do Pinhão, o lote de Touriga Nacional 45%, Touriga Franca 35% and Tinta Roriz 20% com metade do lote a ir 10 meses a banhos na madeira francesa de segundo ano.

Sente-se que é um Douro apesar de ter um toque a puxar para o fácil, tornando-o cativante para quem se aproxima pela primeira vez. Mediana complexidade e intensidade, com frescura da fruta preta madura, flores, desenvolve na complexidade para especiaria e algum bálsamo vegetal, envolto num tom achocolatado. Tudo muito bem integrado com a madeira, o mesmo caminho tem na boca, com a fruta bem fresca a fazer-se sentir, pimenta preta e chocolate, todo ele harmonioso, arredondado e com alguma secura no final de boca em boa persistência.

O preço que ronda os 9€ é um aliciante, afinal de contas o vinho está bem feito, é ao que eu chamo vinho de sexta à noite, quando se entra de fim de semana e apetece beber algo melhor a acompanhar também algo melhor... abrimos e bebemos um destes e ficamos satisfeitos, porque estamos cansados e não queremos perder tempo a pensar no que vai no copo... e tanta falta que fazem vinhos assim.  89 pts
 
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