Copo de 3: maio 2012

30 maio 2012

El Picón 2006


O El Picón é o topo de gama do produtor Pago de los Capellanes, situado na Ribera del Duero (Espanha), é daqueles vinhos raros e muito caros, acima dos 100€, a qualidade está muito lá por cima e o prazer que dá nem se fala. Sim este é dos tais que provoca sorrisos nos rostos até daqueles que são menos dados a estas coisas da prova, afinal a excelência quando existe é facilmente detectada por todos. Na sua origem está a parcela de vinha que lhe dá o nome, a mais especial e também a mais pequena com 2ha onde a uva Tinto Fino brilha a seu belo prazer. É 100% Tinto Fino, 26 meses em carvalho francês mais afinação em garrafa com líquido por filtrar, resultantes num dos grandes vinhos da nova geração nascida em solos de Espanha.

Se há coisa que aprecio num vinho por mais modesto que seja, é a definição dos seus aromas e sabores, não me basta um qualquer atabalhoado de coisas que parece terem caído por ali de rompante... nada de açucarados ou soalhos flutuantes, fujo de tudo isso, o que procuro é o que se encontra em vinhos como este, um Full HD. Vinhos onde é a fruta, a bela da fruta que deve ser sempre a principal protagonista, com ou sem madeira, brilha com enorme definição, a frescura e a delicadeza apesar do grande envolvimento, dominam a prova. Madeira essa coisa que muitos insistem em utilizar para tapar buracos é aqui sabiamente manobrada, está mas não está, contribui mas sabe que deve deixar a fruta brilhar... porque a essência de um vinho é a fruta e não a madeira por onde andou. Por momentos fez-me lembrar dois vinhos muito especiais, ambos Touriga Nacional, um nascido no Dão, um Touriga Nacional 2001 da Quinta da Bica que nunca chegou a ver a luz do dia, o outro um Touriga Nacional criado pelo mestre Mariano Garcia lá para os lados de Zamora. Dois vinhos fantásticos com um elo em comum com este aqui agora relatado, a definição de uma fruta fresca e bem madurinha, com todo o restante conjunto em grande harmonia e complexidade, cheios de fibra mas suaves no palato, ao mesmo tempo com raça, profundos mas delicados.

Na senda do El Nogal 2005, este está num degrau acima em tudo, mais complexo e mais profundo, aromas mais definidos, todo ele mais denso e com tudo de superior qualidade, destaca de inicio muita fruta preta do bosque (amora, framboesa) sólida e fresca, depois num toque de graça algum floral perfuma todo o conjunto seguido de especiaria fina (canela), tabaco e algum regaliz em fundo. Tudo ainda a pedir tempo, vinho que se sente fechado, com nervo e garra, gira no copo e vem ao de cima alguma caruma de pinheiro num fundo mineral. Na boca é complexo, sedoso, denso, os sabores vincados com enorme harmonia e frescura, final muito longo e persistente. Tem ainda muita vida pela frente,  podendo beber-se desde já é vinho que vai evoluir nos próximos dez anos sem grande problema. O preço é elevado, paga-se a procura e a exclusividade, nisto o El Nogal tem sem dúvida melhor relação preço/qualidade, quanto ao El Picon é um vinho de excelência que não deixa ninguém indiferente... 95pts

29 maio 2012

El Nogal 2005

Como em quase tudo na vida, também o vinho é capaz de despoletar as mais variadas emoções, nada melhor do que ter um grande vinho num copo e quando o cheiramos pela primeira vez largar um sorriso. São estes vinhos que colocam um sorriso no rosto que cada vez mais tento encontrar, procurando e vasculhando, porque um vinho que nos faz sorrir é meio caminho andado para a felicidade enófila. É preciso que cada um procure essa felicidade, embora muitos não a conheçam e sem saber do que falam acabam até por a ignorar, é este defeito que impera em muito consumidor, desconfiando quase sempre de tudo o que lhe foge ao conhecimento, outros apenas bebem porque supostamente alguém disse que era muito bom e muito poucos o abordam como aquilo que é. Durante a prova deste vinho chegou-se à conclusão que apesar da grande prova que dá ainda não está totalmente pronto, como disse um enólogo que o bebia comigo, tem aqui muita coisa para desembrulhar... e tem mesmo muita coisa, ainda lhe faltava mais tempo de garrafa, tempo que o produtor não lhe pode dar, tempo que cabe ao consumidor gastar na sua casa, infelizmente o consumidor não tem formação para saber esperar e entender que o vinho que tem à sua frente precisa de crescer, precisa de evoluir e só com tempo é que o consegue fazer, fala-se à boca cheia que deve ser o produtor a ter de guardar o vinho quando cabe ao consumidor essa mesma tarefa... o resultado é quase sempre o mesmo, compra-se e bebe-se sem ligar a guardas ou necessidades de envelhecimentos tantas vezes necessários. Entender o vinho é saber esperar pelo momento certo, não pela nossa vontade de o beber mas pela vontade do vinho se mostrar, e num mar enófilo esperar é coisa que cada vez menos se sabe fazer.

A abordagem foi cautelosa, como sempre, com dose de respeito por um daqueles rótulos que é muito bem capaz numa mesa deitar as outras garrafas ao chão apenas para estar ele na ribalta... e faz isso com toda a cagança que mostra e tem. Situando quem lê e gosta de saber estas coisas, é na vizinha Espanha mais propriamente na Ribera del Duero que se encontra o produtor Pago de los Capellanes, de onde sai este El Nogal 2005. É o chamado vino de pago, o pago é o nome que se dá a uma parcela de vinha, nestes casos a coisa tende sempre a ser ou reduzida ou de produção reduzida face ao terroir onde fica situada, neste caso temos a parcela de Tinto Fino (Tempranillo/Aragonês) de 6 hectares com enxertia proveniente do famoso  pago Picón com rendimento reduzido. 
O primeiro contacto é muito bom e cativante, apesar de um ligeiro aroma a tinta de caneta, talvez a precisar de uma decantação prévia, passa com as voltinhas em copo largo, emana fruta vermelha limpa e bem delineada com frescura a fazer-se sentir, sente-se muito boa estrutura por detrás, num conjunto sólido e amparado de forma excelente pela madeira que anda por lá mas disfarça muito bem, travo mineral, todo ele complexo e muito perfumado, cacau, tosta, baunilha, fina especiaria e regaliz. Muita elegância e frescura na boca, bem presente com sabores definidos, macio mas com nervo e a ocupar bem todo o palato. A fruta fresca e suculenta, fria e com doçura no ponto certo, a madeira ampara tudo de forma discreta sem sequer dizer uma palavra. O final é longo com recorte frutado e mineral.

É um vinho sério, com grande nível de detalhe, frescura e fruta bem delineada, dá um gozo tremendo beber agora mas que não vira cara a uns anos de cave... o preço rondará os 35/40€ que os vale e bem tendo em conta outras aberrações que por vezes nos assombram o copo pelos mesmos ou até mais euros. Não tão profundo como o Picón, não tão complexo ou cerrado, nem sequer com um detalhe tão minucioso e direi mesmo exagerado que tem o seu irmão, onde o preço dispara para mais de 100€. 93pts

25 maio 2012

Morais Rocha Reserva 2009


Dei de caras com este tipo na minha garrafeira, desconhecia a sua existência e não me lembro de alguma vez o ter visto. Olhava para mim de soslaio, sem grande confiança e como que encostado a uma esquina de uma qualquer caixa de madeira.Tinha ar suspeito e de poucos amigos, no bairro A todos falavam baixinho com medo daquele desconhecido, decidi averiguar mais de perto quem seria o dito cujo. A conversa que tive com ele foi algo curta, falei mais do que ouvi, queria e gosto sempre quando a coisa fica no meio, é sinal de que o vinho nem é tagarela nem mudo, este por sinal é dos resmungões... e eu sem paciência

Nasceu na Vidigueira, na JJMR - Sociedade Agrícola, Lda , é supostamente o topo da casa e nasce fruto da combinação das castas Cabernet Sauvignon e Syrah, depois andou em barrica nova durante um ano com mais 8 meses de afinação em garrafa. O resultado de tudo isto ronda os 13€, mostrou-se caro para o que mostrou, não é um vinho "falador" ou com grande exuberância, trabalha pela calada as notas verdes do pimento verde, fruta gorda e pastosa, geleia com especiaria, cacau e a presença da barrica a fazer-se sentir, tudo muito amontoado sem ter grande definição, um pouco  agreste até, acanhado e amontoado. Melhora ligeiramente na prova de boca a querer mostrar alguma simpatia para quem o prova, por breves momentos nem parece o mesmo dando a conhecer o que lhe vai na alma. Toque universal de fruta com especiaria, alguma frescura com secura de taninos a pedir tempo que contraria o toque adocicado que saltita lá pelo meio.

Não é o tipo de vinho que me faça ir atrás dele para comprar, atabalhoado, amontoado, como se tudo ali estivesse com excesso de peso em cima e sem ar para poder respirar e falar normalmente. Ainda tentei espevitar o vinho com Carne do Alguidar & Migas Alentejanas mas nem assim tive sucesso... 88 pts

24 maio 2012

Esporão 2 Castas 2011 & 4 Castas 2010

Um dos desafios que mais aprecio é o de conjugar um vinho com determinado prato, para muita gente o vinho apenas serve para acompanhar no meu caso gosto de cozinhar para o vinho, ou seja, tendo em conta aquilo que encontro no vinho tento preparar algo que esteja em harmonia com o dito cujo. Num destes desafios mais recentes estava perante os dois exemplares mais descontraídos e irreverentes de toda a linha de vinhos do Esporão, falo do 2 Castas branco e do 4 Castas tinto. Tinha convidados para almoçar e teria de elaborar dois pratos com base nos dois vinhos que já tinha escolhido... a coisa foi mais ou menos assim:

Na altura fazia um calor danado e não apetecia mesmo andar de roda do forno, o Esporão 2 Castas branco 2011 vinho  irreverente no lote de Semillon e Viosinho iria ser acompanhado por um clássico da cozinha Italiana, Spaghetti ai frutti di mare. O seu toque calmo e arredondado de vinho feito na planície conjugado com boa dose de acidez (não muita) iria ligar muito bem com o conjunto massa/tomate/marisco/erva aromática. A vivacidade da fruta bem fresca e com algum peso (laranja, alperce, pêssego) depois vegetal fresco a lembrar ervas aromáticas davam o toque final e alegravam a boca e o nariz. Tudo muito bem disposto, pequena colherada de mel a conferir untuosidade, mais mineralidade e novamente a frescura com sensação de arredondamento a meio e ao mesmo tempo fresco, com boa secura em final médio. O preço ronda os 8€ em grande superfície. 90 pts

Para o Esporão 4 Castas 2010, preço a rondar os 10€, fiz umas Bochechas de novilho estufadas em vinho tinto, acompanhadas com puré de batata e cebola pérola caramelizada. O vinho é bom de cheirar, puxado nos aromas com muita fruta madura e algo adocicada, a madeira marca com toque baunilhado, num todo redondo e fresco, sensação gulosa e de harmonia com vegetal, bálsamo, especiaria e fumo. Volta à recordação a fruta escura, a ameixa e a amora. Na boca com bom volume, alguns taninos a enrugar, algo que um prato bem temperado ajuda a eliminar, mediano de corpo com boa passagem e saboroso, muito guloso e bom final. Quando dei por ele já não havia mais... 91 pts

21 maio 2012

Quinta do Vale Meão 2006


A dias de ter sido lançado um novo Barca Velha em que grande parte da uva que lhe deu origem é da Quinta da Leda, antes era da Quinta do Vale Meão. Ora é dessa mesma Quinta que após cortar o cordão umbilical com a Casa Ferreirinha se começou a engarrafar com marca própria no ano 1999 (já lá irei a seu devido tempo), por agora falarei apenas do Quinta do Vale Meão 2006, um bom vinho do Douro fruto de um ano menos bom que teve como consequência um vinho algo fora de tom... pelo menos do que tenho provado não vi que este 2006 fosse de grande brilho. Com o decorrer das colheitas, o lote de castas presentes foi diminuindo e vimos desaparecer a Tinto Cão e a Tinta Amarela, sendo quase sempre assente na Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Francesa e Tinta Barroca.

Neste 2006 é a Touriga Nacional que domina no aroma seguida de Touriga Francesa e as duas Tinta restantes em igual percentagem. Todo ele é fácil de gostar, é o Vale Meão com mais gordura de todos, o mais balofo e redondo, anafado com fruta gorda, sumarenta e viscosa, baboso de geleia e cacau, a barrica já bem integrada com muita especiaria doce, está mais do que pronto a beber. Tem boa intensidade e complexidade, mas torna-se muito óbvio, sedentário e nada espevitado. Na boca apesar da frescura que mostra ter, falta-lhe a energia dos outros anos, não deixa de ser um vinho que enche o palato, redondo com muito sabor a marcar presença mas abaixo do normal, falta energia e nervo, aqui é mais bolos, chocolate e esteva seca. Mostra harmonia, muita prontidão, muito facilitismo. Esta foi a terceira garrafa que bebi do 2006 e de todas foi a que menos me disse, falha como Meão se comparar com anos como o 2001 ou 2005 e recentemente o 2009, para mim nem devia ter sido lançado para o mercado, acho que mais valia um grande Meandro do que um pequeno Meão. Não vale os cerca de 60/70€ que já vi pedirem por ele. 91 pts e a descer...                     

20 maio 2012

7 Anos Online

Aproveitando o embalo do ritmo festivo, o meu filhote fez ontem 2 anos, é no dia de hoje que o Copo de 3 comemora o seu 7º Aniversário. Há tanto em lista de espera para falar que não me vou alongar em grandes palavreados, apenas quero agradecer a todos aqueles que têm partilhado comigo grandes momentos enófilos, aos que já conhecia e aos que vim a conhecer durante este último ano. 

16 maio 2012

Barca Velha 2004

Serve este post apenas como notícia sobre o lançamento daquele que é seguramente o mais aclamado vinho de Portugal, o mais emblemático e o que reúne sempre um misto de mistério e surpresa na altura do seu lançamento. Hoje dia 16 foi dia de lançamento do novo Barca Velha para o mercado, não porque o mercado pediu mas porque se entendeu que 2004 atingiu a nível de qualidade exigido para ser proclamado Barca Velha. Vai na 17ª edição este vinho que nasceu em 1952, portanto ainda não chegou à idade adulta no que diz respeito às colheitas no mercado... quanto ao preço do vinho pelo menos a colheita anterior (2000) custou 75€ no Clube 1500 e passou depois nas lojas para 300€. A nota atribuída vem de série, sem pensar muito será chapa 18 - 18,5 que aqui o vento não passa e a seara não abana... depois é deixar que a especulação faça o seu trabalho... afinal há gente que até entendo a sua felicidade quando um vinho destes é lançado. 

15 maio 2012

Young Winemakers of Portugal - Apresentação

São jovens ousados, irrequietos, divertidos e acima de tudo todos eles são enólogos, juntaram-se naquele que é o mais novo grupo de produtores em solo nacional, o Young Winemakers of Portugal. O grupo é formado porJoão Maria Cabral - Camaleão; Luis Patrão - VadioRita Marques - ConceitoDiogo Campilho e Pedro Pinhão - Hobby; Pedro Barbosa - Clip (na foto entre Pedro Pinhão e Diogo Campilho) Todos eles produzem vinhos distintos, diferenciados e numa onda jovem e desinibida com qualidade bem acima da média. A apresentação foi Sábado, num jantar que decorreu no fantástico G-Spot em Sintra.

Ser YOUNG é um defeito de carácter que só o tempo cura. Já ser Winemaker supõe-se que é o tipo de virtude que melhora com cada vindima, cada trasfega, cada estágio, cada vinho provado. Somos 6 aventureiros que se cansaram de VADIAR sozinhos e talvez presos por CLIPS se concentraram num CONCEITO. O HOBBY de cada Winemaker é muitas vezes ser CAMALEÃO, transfigurando-se de Viticultor em Enólogo, de Provador em Vendedor, de Viajante em Marketeer, de Rotulador em Cobrador. Se parece cansativo e nós sabemos que realmente o é, há só uma explicação para fazermos esta vida: é gostarmos muito de vinho. 

É desta maneira que se apresentaram... os vinhos depois disseram o resto. Em amena cavaqueira foram-se apresentando os vinhos e os convivas, o primeiro a saltar para o copo vinha da zona dos Vinhos Verdes, um Clip do Monte da Vaia Loureiro 2011, Clip Loureiro 2011 para os amigos. Pedro Barbosa apresentou-nos um Loureiro de boa expressão, fresco, direto e frutado, flores a dar um leve perfumado. Boca com secura, acidez algo contida mas harmonia plena de inicio ao fim, mineralidade sentida ao de leve em final de média persistência (88pts). Baixou-se até Lisboa (Alenquer) para se provar um inovador Camaleão Sauvignon Blanc 2011, inovação que começa no rótulo térmico que muda de verde para azul quando fica frio... medida inteligente que nos obriga a ter o vinho a temperatura de serviço correta. Dito isto e focando no vinho, é um Sauvignon puro e sem contorcionismos, muito bem feito, franco, apelativo e nada forçado, nota-se aquilo que é o que tem para dar. Gostei do envolvimento aromático, da frescura reinante, da pureza de uma fruta tropical muito bem equilibrada com espargos verdes e alguma mineralidade. A frescura perdura na boca, mineralidade, boa secura no final com rasto frutado, para brilhar mais alto precisava de um pouco mais de definição e de presença mas isso certamente vai ser conseguido em colheitas futuras... nasceu um dos melhores Sauvignon Blanc made in Portugal e deste eu gosto (90pts).


Pequena pausa para apresentação dos três brancos da Rita Marques, primeiro o Contraste branco 2010, um bom vinho do Douro, a madeira deixa-se notar, tapa ao de leve a fruta e o conjunto, agita-se o copo e algum fermento, a fruta com citrinos vem depois com frescura, finesse e sensação de fina cremosidade. Na boca é gordinho e fresco, quase uma bolinha fresca de fruta e creme de avelã com baunilha, final ligeira mineralidade (90pts). O outro vinho da Rita, é o seu topo de gama e considerado um dos grandes vinhos brancos de Portugal, eu gosto bastante e o reencontro com o Conceito branco 2010 foi como encontrar um amigo. Muito aprumo entre fruta, frescura e barrica, menos presença da madeira que no anterior, a complexidade aumenta e desdobra-se em vários apontamentos, finesse dos pés à cabeça. Na boca apenas confirma, amplitude controlada pela delicadeza da fruta limpa com amparo sedoso da barrica em fundo fresco e de lembrança mineral (93pts). Por último o Conceito Nova Zelândia Sauvignon Blanc 2011, a nova colheita no mercado que se revelou na boa linha do anterior, gostei mais do outro, aqui encontrei um vinho mais sério e detalhado, talvez pela prova tivesse sofrido em ter sido dos últimos a vir ao copo, embora tivesse sofrido ligeiras afinações tornando-o mais sério e detalhado (92pts)

A ronda dos brancos iria passar pelos dois Hobby branco, o primeiro um Alentejo 2010 da zona de Portel, um 100% Antão Vaz que para boa surpresa não se deixou cair em tentação e mostrou-se fresco e solto, está lá o ananás, a calda mas tudo com contenção, a madeira faz o seu trabalho e na boca peca apenas pela falta de empenho da casta no segundo plano, quebra na falta de acidez (87pts). O segundo Hobby (Tejo) é também de 2010 e composto por Fernão Pires e Chardonnay, direi que cria empatia ao primeiro contacto, guloso, envolvente cremosidade, tostinha, frescura das castas, fruta gorda da Chardonnay sem ser em demasia, barrica espalhada e polida, tudo muito bonito numa abordagem que nunca deixa o vinho cair no facilitismo e lhe confere alguma seriedade (89pts).

Os vinhos iam fluindo com naturalidade, Luis Patrão falou do seu projeto pessoal na Bairrada com os vinhos Vadio. Começou-se pelo Vadio branco 2010, Cercial e Bical, muito charmoso de aromas, destaca-se pela diferença, coloca um sorriso no rosto, epa gosto disto, cheira-se novamente, fresco e bem exuberante, mineralidade sentida, fruta de caroço em quantidade e qualidade, amparo da madeira, secura na boca com muito boa presença, médio corpo, saboroso e final médio. Num grande ponto de consumo mas a dar a dica que vai ganhar algo de bom com mais algum tempo em garrafa (92pts). Passagem pelo Vadio Espumante bruto, novidade, proporção inversa do branco que faz termos um espumante seco, fruta cristalina e madura mas muito mineral e secura, na boca complementa-se e convence, ligeira mousse com toque de bolo, seriedade e bom comprimento (91pts).

Já durante o jantar iriamos ter a oportunidade de acompanhar com alguns dos brancos já mencionados e com alguns tintos, o Vadio tinto 2007, uma enorme surpresa pela qualidade e refinamento que mostrou, um Baga cheio, arredondado com boa frescura, fruta bem limpa e suculenta, a madeira com leve chocolate, apenas o redondeou, tornou mais completo  e complexo, cheio de delicadeza e energia suficiente para vadiar pelo copo uma noite inteira...  belíssimo Baga (92pts). O segundo momento tinto foi o Hobby 2008, Alentejano também ele de Portel, apesar da frescura que mostra ter na boca, a suficiente, não esconde os calores de 2008, abana-se com regaliz, fruta docinha e fresca,  é guloso de provar e de cheirar... sabe bem  e gosta de estar na mesa e no copo, médio corpo com boa carga de taninos a pedir comida, afinal é isso que queremos e conta (90pts). O jantar iria terminar em grande convívio com um repasto de elevada qualidade com os vinhos a complementarem muito bem. Aos Young Winemakers of Portugal estão de parabéns, agradeço o convite e desejo muito sucesso para os seus projetos.

12 maio 2012

Vinhos de uma vida... António Saramago


Quero com este texto prestar a minha homenagem a um dos grandes nomes da Enologia de Portugal e do Mundo, o seu nome é António Saramago. Formado pelo Instituto Superior de Enologia de Bordéus, é produtor e enólogo consultor de vários outros projectos. A marca que deixa nos vinhos que elabora é precisa, metódica, atinge com mestria de relojoeiro Suiço a excelência em alguma das suas criações. Os vinhos que fez e que continua a fazer com aquele savoir-faire da escola de Bordéus, grande exemplo com os "seus" Tapada de Coelheiros, ou os encantos dos seus vinhos na Serra de Portalegre ou até mesmo os vinhos que criou na Adega Cooperativa da Granja. Se acham isto pouco então ainda se poderá acrescentar a mestria como domina os Moscateis, a arte que imprimiu em alguns dos grandes da casa José Maria da Fonseca e que nos dias de hoje cria com a sua própria marca. É muito mais que um enólogo, é um  Mestre, alguém que tem a capacidade de nos fazer sonhar, que nos cativa com a sua voz serena e pausada, que nos inunda com a sua sabedoria, com a paixão com que fala dos seus vinhos e dos vinhos que gosta.

Foi num destes dias que a seu convite me desloquei a sua casa, uma prova muito especial, privada e apenas para alguns sortudos em que para além de tudo se ficou a conhecer a obra de vida de um Senhor do Vinho.

Conversa amena, os vinhos iam desfilando e provando à medida que se ia ouvindo e questionando, são já 50 anos de dedicação em que se abordou a sua paixão pelo Moscatel, pelos vinhos da sua terra Palmela e pela sua passagem no Alentejo. A prova começou pelos vinhos de Palmela, os António Saramago Reserva, vinhos de excelente relação preço/qualidade onde brilha a casta Castelão de vinha velha que António Saramago defende e aprecia, temperada com alguns pingos de Alicante Bouschet... todas as colheitas a mostrarem vinhos com raça, bastante frescura e uma capacidade de nobre evolução de se lhe tirar o chapéu. São vinhos que precisam de tempo, não é vinho para enófilo apressado. Atualmente no mercado está o Reserva 2009 naturalmente o mais austero, fruta sólida, especiaria com madeira ainda que suave bem presente. Tudo muito jovem com grande alarido, denso, enrugado na boca, vegetal e por refinar e aprumar o seu conteúdo... é e vai ser grande. O 2007, vivaço, seco e estruturado, muito rico com frescura da fruta limpa e viva, mais domesticado que o 09 embora ainda com tempo nas pernas. Nos finalmente o 2005 e o 2003 que seria na altura o Escolha Palmela, o 2005 é um vinho em que se sente claramente o perfil Reserva mas muito pronto a beber, tudo mais calmo, cacau, pimenta, refinado e refrescante bálsamo vegetal e fruta serena com cereja, enquanto isto o 2003 está na sua plenitude, fino, fresco, com muita coisa boa a aparecer no nariz e na boca, saboroso e fresco... claramente todos eles a mostrar que a Castelão é uma casta a ter muito em conta. Por último nesta senda, o Escolha Alentejo 2001, vinho com uvas ali de Ferreira do Alentejo, apesar da prova contida com alguma frescura mostra que já teve melhores dias, perde muito ao lado dos outros colegas.


Ainda no Alentejo e rumando a Portalegre, o topo de gama de António Saramago de nome Dúvida. Este vinho surgiu na colheita 2005 e é lançado apenas quando se entende que deve ser lançado, aqui nesta prova esteve o 2008, um grande vinho do Alentejo ali da zona que o viu nascer, é vinho sem grande modernismo... remexe a memória com outras coisas que se beberam vai para largos anos ali daquela zona, ainda austero mas permitindo boa aproximação, o bouquet é magnético e tem a capacidade de atrair o mais desprevenido, flores, fruta madura, madeira, tudo muito lá... tudo muito fácil e ao mesmo tempo complexo. Um grande vinho do Alentejo a acompanhar muito de perto nos próximos tempos... dito isto deu-se um salto até à Herdade do Porto da Bouga onde se provou o Garrafeira 2003, este vinho mora nas prateleiras das grandes superfícies, pessoalmente foi o que menos me disse, algo impessoal e achei de fraca atitude, nada do que as primeiras colheitas que dali vi sair me tivessem mostrado ou acostumado, saudoso 2002. Depois foi entrar nos históricos, em que brilhou bem alto o Tapada Coelheiros 1996. Para último ficou a prova de dois vinhos Moscatel, o Reserva 2007 a mostrar-se um moscatel fresco, frutado e de consumo mais descontraído, por outro foi provado a estrela da companhia o JMS Superior 1993. Todos os vinhos vão ser alvo de prova mais detalhada, a ser colocada a devido tempo.
Deixo aqui o meu agradecimento e os parabéns pelos 50 anos de fantásticos vinhos que tão bons momentos  acompanharam e proporcionaram.

07 maio 2012

John Cleese: Wine for the Confused

O documentário Wine for the Confused (2004),  lançado no canal Food Networkque está também disponível em DVD, não é uma novidade no mercado. John Cleese é o responsável por esta belíssima introdução ao mundo do vinho, numa abordagem fácil, divertida, com um vocabulário simples onde se aborda desde a elaboração, principais castas brancas e tintas, serviço e prova do vinho.

Interessante, informal e sempre com algum humor característico desta lenda da comédia.
A destacar algumas opiniões que sempre devem ser tidas em conta, tal como:

"Quality should be judged by your own taste."

Não deixa de ser interessante a escolha das 6 castas mais importantes segundo o autor, brancas com Riesling, Chardonnay e Sauvignon Blanc e tintas com Merlot, Cabernet Sauvignon e Pinot Noir.

06 maio 2012

Olho de Mocho Reserva 2009

Continuando com os vinhos da Herdade do Rocim, também da colheita de 2009, desta vez o Reserva Olho de Mocho, patamar acima do Herdade do Rocim 2009, tanto em preço que ronda o dobro do irmão mais novo, 15€ em garrafeira, como em qualidade pois estes novos lançamentos tornaram-se mais polidos e mais fáceis de entender, falam uma língua mais perceptível o que é sempre bom tanto para quem faz como para quem compra e bebe. O perfil é todo ele Alentejo, um Alentejo moderno e apelativo, mesmo com todos os seus facilitismos não se importa pois o resultado é positivo e bastante bom. 

É um vinho que evidência bastante mais gordura que o seu irmão mais novo, tem bastante mais peso tanto da fruta sobremadura tal como da madeira por onde passou, salva a frescura que evita enjoo e um lote de aromas e sabores derivados da passagem por madeira que marca o vinho. Muito pronto a beber, elegante, médio corpo, bom arrasto na boca a mostrar-se saboroso com final de alguma secura derivada de taninos por amaciar.

Ao mais puro estilo Nu Metal, para os apreciadores do estilo fará as delícias, com algum peso, ritmo e fica facilmente no ouvido... direi gosto. Com mais doce mas com acidez mais elevada, não será vinho de grande evolução em garrafa, 1 a 2 anos no máximo, mas enquanto estiver nesta forma é ir abrindo e aproveitar toda a sua energia ao lado da boa gastronomia do Alentejo, por exemplo umas migas com carne do alguidar. 91pts

04 maio 2012

Herdade do Rocim 2009


Nunca o Rocim (Herdade do Rocim) esteve tão bom como está agora, a mudança de imagem resultou num aprumo que se deve enaltecer, ficou mais bonito e mais maduro, o vinho ao que parece também se refinou, tornou-se mais sério, rico e profundo. Nota-se um claro melhoramento a todos os níveis, um vinho que me trouxe à memória outros vinhos do Alentejo que na colheita 1999 me deliciaram. O preço também ele ajustado face à qualidade ronda os 8/9€ em boa garrafeira.

Este Herdade do Rocim 2009 apresenta-se sem os tentadores exageros da planície, a destacar uma fruta fresca com pouca barrica pelo meio, está lá mas melhor integrada, a mostrar muito mais frescura e elegância que os anteriores lançamentos e acima de tudo muito mais finesse e envolvência do conjunto. Saboroso com macieza e uma generosa envolvência bem gulosa a saber a fruta, cacau, especiaria, terminando em boa persistência. 

É certamente o tipo de vinho que dá gozo ser bebido de forma informal, aquele "topo de gama" para os que não podem nem querem dar mais do que 10€ por uma garrafa de vinho. Muito bem feito, pleno de encanto e para ir abrindo nesta fase tão boa da sua vida... enquanto não sai nova colheita. Este acompanhou de forma impecável uma tradicional Lasagna no forno... mais houvesse, tinto e da dita cuja. 90 pts
 
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